A morte de um ciclista no Rio e um olhar Extra-acontecimento
A morte de um médico em uma zona nobre do Rio de Janeiro pautou diversos meios de comunicação, dando margem a discussões sobre segurança e redução da maioridade penal no Brasil. Mas nem todos ficaram no lugar comum jornalístico.
Praticamente todos os grandes veículos de comunicação repercutiram, no dia 20 de maio de 2015, a morte de um ciclista na Lagoa Rodrigo de Freitas (Rio de Janeiro), após uma abordagem por dois jovens que levaram sua bicicleta na noite do dia anterior (19). O cardiologista Jaime Gold tinha 57 anos e foi esfaqueado em um cartão postal da zona sul do Rio. O tratamento midiático dispensado ao acontecimento gerou toda a comoção típica de crimes de morte envolvendo brancos de classe média alta, completamente diferente do que a mídia dá às mortes diárias de negros pobres, ou ao atropelamento de um ciclista pobre por um empresário bilionário, como ocorreu com Thor Batista, absolvido no dia do esfaqueamento de Gold.
As equipes da Globo e da Record circularam de carro na Lagoa após o assalto, constatando que “apenas” um carro de polícia passava por toda sua extensão. Se o problema de segurança e policiamento no Rio é algo generalizado, isso se torna ainda mais grave quando há indícios que os melhores bairros estão desassistidos.
O apresentador Tino Júnior (Record) convocou a empatia do público: “Um médico, um homem, um trabalhador. O cara estuda a vida inteira, aí vai andar de bicicleta no fim do dia e é esfaqueado covardemente […] Esse homem aí é um chefe de família, tem uma família neste momento chorando a morte dele […] Na zona sul do Rio de Janeiro, onde a pessoa paga um dos IPTUs mais caros do Rio de Janeiro, não temos segurança”. Mas e se não fosse médico, nem empregado, nem tivesse família? Se não tivesse estudo ou não pagasse caro para morar ali?
Na Record já havia, desde o início da cobertura, uma cobrança para que fossem repensados não somente o policiamento, mas as leis para os menores que esfaquearam o médico, aludindo claramente à redução da maioridade penal. O site da Veja trouxe uma fala do secretário de Segurança do Rio sobre os policiais não poderem “virar babá” de menores de idade nas ruas, cobrando outras instituições. Os adolescentes envolvidos foram rapidamente apreendidos: eram jovens negros, reincidentes, que moravam em comunidades vizinhas, no subúrbio da capital.
Cobertura Extra
O jornal Extra surpreendeu com uma capa dedicada ao caso e uma cobertura diferenciada em 22/05: “Duas tragédias antes da tragédia: sem família, sem escola”. A matéria trouxe uma abordagem humanizada, aprofundando-se no contexto do jovem de 16 anos. Muito além de menor infrator com 15 passagens pela polícia, o adolescente foi apresentado como vítima – de abandono da família e de todo um sistema opressor – que já passou fome e muitas necessidades antes de chegar ao episódio que levou à morte de Jaime Gold.
Com os pais indiciados por abandono, desde os 12 anos o jovem trocava as salas de aula pelas praias na zona nobre do Rio, a pretexto de ir jogar bola. No 6º ano, abandonou a escola, foi detido por várias infrações e fugiu de uma unidade de semiliberdade. Também acusou agentes socioeducativos de tortura, durante uma de suas muitas passagens pelo Departamento Geral de Ações Sócio Educativas.
Extra convidou o leitor a olhar para esse garoto de maneira contextualizada, evidenciando rachaduras profundas no sistema em que vivemos, numa estrutura em que mais julgamos e apontamos do que analisamos, com alguma propriedade, os acontecimentos cotidianos. Por outro lado, propôs uma cobertura mais humana, adentrando elementos pouco explorados pelas editorias de polícia no jornalismo: foi um tapa com luva de pelica nas redações concorrentes e no pensamento elitista de que o jornal popular (de baixo custo) carece de qualidade. Foi uma demonstração de que a crise no jornalismo chegou ao ponto em que atender às expectativas de uma pauta bem explorada causa estranhamento.
Tamires Ferreira Coêlho
Doutoranda em Comunicação Social (UFMG)
Pesquisadora do Gris/UFMG
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