Análise | Diário da Quarentena Internacional

A pandemia de covid-19 nos EUA e a tarefa civilizatória das eleições

O número de casos de Covid-19 nos Estados Unidos continua em escala ascendente, levando governadores a frear a reabertura econômica iniciada em vários estados. A crise econômica desencadeada pela pandemia e os protestos antirracistas por todo o país vêm reduzindo a aprovação de Donald Trump, que concorre à reeleição em novembro. O democrata Joe Biden é a alternativa que se coloca para interromper o avanço da extrema-direita não apenas nos EUA, mas em vários países do mundo, incluindo o Brasil.

Imagem: Depositphotos

Os Estados Unidos contabilizam quase 2,7 milhões de casos de Covid-19 (em 30 de junho), tendo registrado recordes diários de contaminações nos últimos dias. País com maior número de casos notificados do novo coronavírus – dividindo as primeiras posições com o Brasil –, os EUA totalizam mais de 129 mil mortes pela doença. Se em alguns estados, como Nova York e Nova Jersey, a pandemia parece estar sob controle, ela está crescendo em 35 dos 50 Estados americanos – levando governadores a rever o processo de reabertura econômica.

O primeiro caso do novo coronavírus nos Estados Unidos foi notificado em janeiro de 2020 e, desde então, a pandemia se alastra pelo país, sem que haja uma política pública eficiente e unificada para enfrentar “a maior crise sanitária mundial de nossa época.” Ao contrário, o presidente Donald Trump “contribuiu para agravar a maior tragédia americana em um século”.

Em janeiro, o presidente afirmou que tinha tudo sob controle e que o surto não chegaria ao país. Em repetidas declarações (sem apresentar provas), afirmou que o vírus teria sido fabricado em laboratório chinês. Desde março, é um veemente defensor do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para prevenção e tratamento da doença – contrariando recomendações de especialistas do mundo e de seu próprio governo. Ele sugeriu a injeção de desinfetante para combater o vírus e gerou uma onda de intoxicações pelo país. No fim de maio, anunciou o rompimento dos EUA com a OMS e voltou a culpar a China pela pandemia.

Se, até o início do ano, Trump se ancorava na economia para ostentar o favoritismo à reeleição em novembro, agora precisa lidar com elevados índices de desemprego e com a ascensão de seu concorrente democrata, Joe Biden, nas pesquisas de intenção de voto. Além disso, o já abalado governo de Trump vem enfrentando protestos antirracistas e contra a violência policial que evidenciam a luta contra as injustiças sociais e a favor dos direitos humanos – valores avessos à retórica trumpista, que é também endossada por outros governantes mundo afora, incluindo o Brasil.

Ainda é cedo para saber se a queda de 10 pontos percentuais na aprovação da gestão de Trump hoje consagrará o democrata Biden nas urnas em novembro. Mas é possível ter esperança. Afinal, como destacou Kennedy Alencar, “derrotar o presidente Donald Trump é uma tarefa civilizatória. Tirar o republicano da Casa Branca terá como efeito principal enfraquecer populistas de extrema-direita que fragilizaram democracias mundo afora. Quebrar a onda trumpista é fundamental para o futuro da humanidade”.

Paula Simões, professora do PPGCOM/UFMG. Pesquisadora do GRIS



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