Na análise, as autoras relacionam a visibilidade gerada pelo recente episódio envolvendo Fernanda Lima e Eduardo Costa com as inúmeras reverberações em torno do tema, a fim de compreender o que essas celebridades têm a ver com as expectativas do contexto brasileiro.
Progressista e contundente, a fala de Fernanda Lima no programa Amor&Sexo foi publicada em seu perfil pessoal do Instagram e replicada por diversas famosas e outras seguidoras, que se sentiram representadas: “Chamam de louca a mulher cheia de erotismo, de vida e de tesão. Chamam de louca a mulher que resiste e não desiste. Chamam de louca a mulher que diz sim e diz não. Não importa o que façamos, nos chamam de louca. […] Se levamos fama, vamos sim deitar na cama. Vamos sabotar as engrenagens desse sistema de opressão. Vamos sabotar as engrenagens desse sistema homofóbico, racista, patriarcal, machista e misógino. Vamos jogar na fogueira as camisas de forças da submissão, da tirania e da repressão. Vamos libertar todas nós e todos vocês. Nossa luta está apenas começando.”
O discurso gerou reações de apoio e de recusa. Entre as últimas, destacou-se o comentário agressivo do cantor Eduardo Costa, que, além de chamar a apresentadora de “imbecil”, qualificou sua fala como “esquerdista” e justificou
o próprio posicionamento a partir do apoio declarado a Jair Bolsonaro. O clima de briga logo foi explorado midiaticamente e ambos discursos acabaram ganhando ainda mais visibilidade.
Esse parece um movimento comum, já que os personagens envolvidos no acontecimento são celebridades da esfera da cultura e possuem uma ampla base de fãs. São pessoas públicas dotadas daquilo que Max Weber chamou de carisma, que pode ser entendido como uma característica de grandes líderes, dada através da comprovação de sua “força na vida”. Tem a ver com o cumprimento de promessas e com expectativas atendidas.
Mais quais seriam, nesse caso, as promessas que essas celebridades fazem? E o que as expectativas em torno delas dizem do atual contexto brasileiro?
Jornalista, modelo, atriz e roteirista, Fernanda Lima também é apresentadora de programas que falam sobre amor e sexo, desde o ano 2000. Ela começou na MTV, ajudando a dar visibilidade a temas muito caros ao movimento feminista, pois tocam na questão da emancipação das mulheres. Na Globo, desde 2009 apresenta o Amor&Sexo, dando voz e rosto, em um espaço privilegiado a figuras importantes que encampam a luta feminista, como a filósofa e escritora Djamila Ribeiro. Sua promessa é, portanto, que essa luta seja levada para os espaços que ocupa. Ela a incorpora e dá voz.
Eduardo Costa é cantor sertanejo e figura na cena midiática desde 2006, apesar de ter começado a carreira em 1994. Um dos seus principais sucessos, “Cabaré”, de 2014, foi gravado em parceria com o cantor Leonardo, famoso desde os anos 1990. No geral, sua performance pública tem apelo popular e sustenta o estereótipo de um homem do interior “convencional”.
Em seu comentário, a promessa visível é se posicionar como uma barreira contra as ideias “esquerdistas” de Fernanda Lima. Ele não apenas assume esse lugar de reação, como incorpora uma forma de contenção agressiva contra o avanço das pautas feministas, as quais encontram rechaço no seio da sociedade brasileira.
No entanto (e felizmente), a mídia que comporta e reverbera comentários como os de Eduardo Costa também é construída por pessoas que se identificam com discursos como os de Fernanda Lima. Depois de ser muito criticado, o cantor se desculpou publicamente, afirmando que se arrependeu e foi infeliz nas palavras. “Fui babacão”, disse.
Além do acontecimento ilustrar a dinâmica de uma luta social importante, outras semelhanças apontam para o contexto brasileiro: assim como Bolsonaro, Eduardo Costa também “voltou atrás” em sua posição, repetindo algumas características do líder que escolheu.
Maria Lúcia de Almeida Afonso
Mestranda em Comunicação Social pela UFMG e pesquisadora do GRIS
Fernanda Medeiros
Doutoranda em Comunicação Social pela UFMG
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