Sorrir não tem sido uma tarefa fácil nesse país. Já são mais de 50 mil mortos e incontáveis equívocos promovidos pelo desgoverno que lamentavelmente lidera o Brasil nesses tempos sombrios. No entanto, mesmo diante desse triste cenário, três humoristas têm se esforçado para manter o riso em cena, abusando do deboche e da ironia.
Marcelo Adnet, Paulo Vieira e Yuri Marçal são nomes em destaque na conjuntura midiática atual, especialmente nas redes sociais. Cada um com a sua abordagem, eles têm mantido um trabalho importante que, além de fazer rir – um verdadeiro desafio para quem assiste a tanta tragédia nas telas e na vida real – também ajuda a construir uma crítica social em torno da realidade que envolve a pandemia, o quadro político e até mesmo a relevância da mídia.
Com o Diário do Coronga, Paulo Vieira, interpretando a amiga da dona de casa Niédja, ironiza as dificuldades relacionadas ao isolamento social e, de forma leve, chama a atenção para as desigualdades sociais que também impactam no enfrentamento da crise de saúde. Devido ao sucesso da esquete (que começou a viralizar como áudio pelo Whatsapp logo no início da pandemia), o ator ganhou recentemente um quadro no Fantástico, chamado Como lidar?, em que faz piada com os dramas cotidianos da quarentena.
Yuri Marçal atua mais nas redes sociais e sua pauta é atravessada pela crítica ao racismo – nem sempre leve, mas constantemente certeira e debochada. O ator grava pequenos monólogos e publica em seus perfis digitais, denunciando conteúdos que reverberam situações racistas anteriormente disseminadas na mídia. Ele também faz parte do elenco do Porta dos Fundos, que tem tentado promover, com humor e com mais frequência, discussões acerca do tema.
Marcelo Adnet já é conhecido pelas suas imitações e sua irreverência em tratar de assuntos e personalidades polêmicas. Através do Sinta-se em Casa, ele comenta com muito sarcasmo e crítica vários episódios relacionados ao governo e aos famosos dentro do contexto da pandemia. Ele ainda encena algumas notícias e reportagens (como a prisão do Queiroz e as retrata através de paródias bastante divertidas. Seu programa vai ao ar pelo aplicativo GloboPlay, mas também vai às telas da Globo por meio do É de Casa, e nos perfis digitais do próprio Adnet, que afirma produzir tudo em casa, com ajuda da esposa, mantendo o compromisso do isolamento. Em uma entrevista recente, ele afirmou que “o alcance do humor como arma crítica é muito grande, especialmente em um momento político tão tenebroso (…) o desafio é competir com a realidade”
Realmente, desafiar a realidade do Brasil atual não é missão para amadores, mas, mesmo assim, muita gente tem se arriscado. Além de humoristas famosos, como já citamos, várias outras pessoas completamente anônimas têm utilizado da plataforma TikTok para se entreter e levar risadas Brasil afora. Por meio de dublagens, receitas engraçadas, desafios e muitos memes, essas pessoas driblam o caos da pandemia e nos arrancam algumas gargalhadas
Esses anônimos do aplicativo ainda fazem algumas ações parecidas com os humoristas que citamos. Por vezes, eles usam situações reais, notícias ou coberturas para fazer paródias da realidade, trazendo novas formas de encarar a vida, não necessariamente mais leves, porém mais engraçadas.
Há tempos escutamos que rir é o melhor remédio. Apesar de não conseguirmos afirmar cientificamente essa frase, acreditamos que no meio de todo esse caos – que ultrapassa 50 mil mortes e 1 milhão de infectados, e que assiste à ausência de um ministro da saúde com formação na área da saúde, a dança das cadeiras dos ministérios e os escândalos envolvendo o Queiroz, o advogado e a família Bolsonaro – rir talvez seja uma boa coisa a se fazer.
Fernanda Medeiros, doutoranda (PPGCOM-UFMG) e pesquisadora do Gris
Paulo Basilio, mestre em Comunicação (PUC Minas) e pesquisador do Gris