Análise | Internacional

Venezuela depois da reeleição presidencial

A difícil situação política e econômica da Venezuela parece abrir novas expectativas depois da reeleição do presidente Nicolás Maduro. O novo mandato de seis anos pode ser tanto a porta de saída de uma profunda crise nacional ou mesmo o ponto final da chamada “Revolução Bolivariana” iniciada pelo líder venezuelano Hugo Chávez. Enquanto isso, a Venezuela continua sendo o cenário perfeito para insinuar que o Socialismo é uma opção política falida.

Crédito: EFE.

Os desdobramentos dos acontecimentos na Venezuela ultrapassam o âmbito nacional e se tornam alvo de disputas ideológicas que acompanham o que podemos chamar de um “retrocesso da esquerda” na região. Outras crises políticas atuais na Nicarágua (analisada neste GrisLab) e no Brasil, por exemplo, mostram alguns sintomas de uma onda  de desestabilização na América Latina, atiçada pelas forças conservadoras. Protestos nas ruas e repressão violenta, pobreza e escassez de recursos básicos, jogos de interesses no poder político e corrupção são algumas das principais consequências atribuídas ao chamado “regime ditatorial” de Maduro. Curiosamente, esses são também problemas que atingem grande parte dos países capitalistas latino americanos, apresentados no discurso midiático apenas como efeitos de má gestão pública de algum governo específico e não como consequência também das falhas do sistema capitalista.

Embora muitas vezes a Venezuela seja associada a Cuba ao falarmos de processos revolucionários mais radicais na região, é preciso destacar que, no caso venezuelano, o forte componente midiático e a necessidade de lidar com a oposição política através de mecanismos democráticos estabelecidos difere, em grande medida, da hegemonia estabelecida em Cuba há várias décadas atrás. Dessa forma, a legitimidade do projeto da Venezuela terá de passar pela capacidade do Governo de lidar com o dissenso e a pluralidade política no país, elementos que permanecem apagados no contexto institucional cubano.

Nas últimas eleições venezuelanas [1], uma abstenção histórica de mais de 46% da população nas urnas indica que a reeleição de Maduro pode não significar necessariamente a vitória do chavismo no país. Contudo, apesar das acusações de opositores e organizações internacionais que negam a legitimidade do mandato, o presidente reeleito parece aproveitar a brecha trazida pelos votos para desenvolver uma agenda de diálogo e reconciliação nacional com as forças de oposição, que já iniciou-se com a liberação, neste mês de junho, de uma parte dos presos por violência política no país [2].

Além das dificuldades econômicas internas, a crise venezuelana tem impulsionado também grandes ondas migratórias nos países vizinhos [3], que alcançam já mais de um milhão de refugiados na Colômbia e mais de 40 mil no Brasil. Na cúpula do Mercosul realizada na semana passada em Assunção [4], governantes da região debateram sobre como lidar com uma situação que torna-se cada vez mais transnacional. Em meio ao entrelaçamento das dimensões midiática, ideológica e regional no contexto venezuelano atual, não há como negar que, no final das contas, é a população que sofre com as mazelas de processos políticos tão complexos.

Assim, o projeto que se pretende revolucionário de Maduro enfrenta um desafio ainda maior que as pressões da oposição política interna e de organizações internacionais: o de acolher e escutar a seus cidadãos sob igualdade de direitos, e não apenas pela seletividade dos que apoiam o chavismo.

Elisa Beatriz Ramírez Hernández
Mestranda em Comunicação Social pela UFMG



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