Análise | Infância, juventude, 3ª idade Violência e Crimes

Tiros em Caraí: reflexo da violência contra a mulher nas escolas

Em Caraí, os alvos eram certos: duas adolescentes que se recusaram a namorar o agressor.  O acontecimento nos traz um alerta. É preciso discutir o machismo e as relações de gênero nas escolas.

Foto: reprodução internet/WhatsApp

No dia 07 de novembro, um jovem de 17 anos invadiu a Escola Estadual Orlando Tavares, na zona rural de Caraí (MG). Portando uma garrucha, um facão e uma réplica de arma, o adolescente seguiu primeiro para uma sala de aula vazia e ateou fogo nas mochilas dos alunos. Em seguida, se dirigiu a outra sala, onde estavam 30 estudantes.

Avisados do ataque, a professora e alguns alunos conseguiram fechar a sala antes que o agressor entrasse. O adolescente atirou então contra a porta, atingindo um aluno de 17 anos. Outro colega da turma também teve ferimentos de facão.

Antes de fugir, o rapaz atirou pelo menos cinco vezes nos corredores da escola deixando alunos e professores em pânico. O adolescente foi apreendido pela Polícia Militar. Segundo investigações preliminares, o ataque teria sido motivado por duas rejeições amorosas sofridas pelo agressor, que também é aluno da escola.

Diante deste acontecimento, cabe destacar primeiramente a motivação do crime. Apesar de o motivo ser amplamente divulgado pela imprensa, ele não foi nomeado e nem problematizado como uma tentativa frustrada de feminicídio.

O ataque nos mostra que a violência contra a mulher, além de não ter idade, se faz presente no ambiente escolar. Revela por parte do jovem agressor um sentimento de poder e de posse que faz com que ele não só negue às adolescentes a liberdade de escolha do parceiro, como se sinta no “direito” de punir a rejeição.

Outro ponto importante é que ainda que ataques a arma não sejam comuns, o cotidiano de muitas escolas brasileiras é marcado por diferentes formas de violência, como ameaças, brigas, furtos e roubos. Segundo reportagem do jornal “Hoje em Dia”, só em 2019, as escolas mineiras registraram mais de 13 mil ocorrências policiais. Somado a isso, o Brasil lidera o ranking de violência contra professores, segundo pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O ataque à escola em Caraí traz dois alertas importantes. Em vez de banalizar esses ataques que se repetem, é preciso atentar – e criar barreiras – contra a disseminação da violência, em vez de estimulá-la. E inclusive para combatê-la, é preciso que a sociedade direcione seu olhar para a escola. Um olhar que ao invés de silenciar professores – a exemplo de projetos como o “Escola sem Partido” – os apoie, reconhecendo o papel da escola como espaço privilegiado de mudança social. Com o fortalecimento das instituições de ensino, nossa sociedade será capaz de promover o respeito entre os indivíduos e combater a violência e o machismo em todas as suas formas.

Fabíola Souza, professora substituta da UFOP e pesquisadora do GRIS



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